Quatro Velhos - Luiz Biajoni - Tomo Literário

A maturidade entra em cena no livro Quatro Velhos, do escritor Luiz Biajoni, que foi publicado pela Editora Penalux em 2018 (172 páginas).

Na obra não temos um, mas quatro protagonistas. Antes de falamos deles, vale dizer ao leitor que a obra foi inspirada numa situação bem peculiar. No final dos nos 1980 o autor ouviu um boato: um morador de uma cidade do interior de São Paulo seria o filho bastardo de Benito Mussolini – o ditador italiano. A história foi ouvida num bar localizado no Jardim São Paulo, bairro da capital paulista. Ao procurar saber sobre esse homem que chamava-se Orlando, ele tomou conhecimento de outro boato que circulava envolvendo o homem e mais três pessoas. Dessas histórias que permaneceram intrigando a mente inquieta de um escritor, nasceu a trama que acompanhamos na obra. Portanto, temos uma história que, criada por Luiz Biajoni, busca preencher qualquer lacuna que tenha existido nos boatos que ouviu e que dá alguma existência a esses personagens.

Então, vamos aos protagonistas. Orlando e Cecília moram na mesma residência há cinquenta e dois anos e após a partida do filho para os Estados Unidos, passaram a levar uma vida sem grandes sobressaltos. Sentiam-se felizes, embora essa tranquilidade e marasmo possa parecer algo monótono aos olhos do leitor. 

Os vizinhos Almereida (com quem o casal tinha amizade) foram levados para o asilo e, uma vez vaga, a casa em que habitavam foi posta para locação. Lando e Ciça – como são chamados – ganham novos vizinhos: Roland e Guinevere, ou simplesmente Ronnie e Never. Temos aqui então o segundo casal que protagoniza a trama.

No primeiro dia em que se instalaram na nova residência, Never resolve visitar os vizinhos e leva uma garrafa de vinho. A partir dali tem início a relação entre os quatro personagens, os quatro velhos, que dão nome ao livro.

A relação entre os personagens constitui um interessante contraponto de características que formam suas personalidades e que demonstram seu comportamento. Ora se opõe, ora se mostram complementares. Um dos casais levou uma vida simples, já o outro estava acostumado a ambientes rebuscados; um casal é mais caseiro e o outro mais aventureiro; um mais retraído e outro mais atrevido.  Esse contraponto de características faz com que tenhamos uma gangorra de emoções e notamos que cada um, a seu modo, carrega tristezas e alegrias. A história dos quatro nos dão uma relação rica, e que tornam o desenrolar da história ainda mais interessante. 

Luiz Biajoni é um excelente contador de histórias e apresenta ao leitor quatro personagens singulares e bastante críveis. Neles residem as percepções da maturidade, o legado de uma vida, o aprendizado que não se esgota com a idade, a visão de mudança do olhar sobre a vida que levavam, a proximidade da morte por uma doença, o sopro de vida ao sair da rotina sisuda que representa felicidade, a decisão sobre uma possibilidade futura de dor, o aproveitamento de cada minuto de vida vivenciado.


É uma obra que fala sobre a mudança de olhar em relação o mundo. E não podemos deixar de mencionar que o próprio olhar aguçado do escritor transparece em sua obra. Veja-se que a partir de um boato ele construiu uma história fascinante, capaz de nos gerar múltiplas visões e recheado de personagens bem estruturados, que transitam pela trama de maneira instigante nos provocando a ler mais e mais.

Nos últimos tempos temos visto cada vez mais livros com protagonistas jovens e raramente nos deparamos com obras que tratam de uma fase  da vida pela qual todos passaremos. Cruzar com figuras que estão na maturidade e que tem uma bagagem de vida a ser apresentada em seu histórico, exige do escritor muita empatia, possivelmente a complexidade dos personagens esteja na experiência de vida que eles tem. Notamos isso em Lando, Ciça, Ronnie e Never.

De todo modo, vemos que as características distintas que tais personagens apresentam, conduz o leitor à reflexão de que a vida passa para cada um de maneira completamente diferente. Não há que julgarmos o que seja a melhor maneira de viver. Lando e Ciça são felizes, Ronnie e Never também. Cada um a seu jeito. Na proximidade entre eles há algo que aparece e salta aos olhos do leitor: o aprendizado. O que mostra também que não há idade para apreendermos ou abrirmos a mente para um novo olhar sobre a vida. Claro, claro leitor, que cada um poderá fazer uma leitura diferente sobre a vivência desses personagens e esse é um ponto intrigante da literatura.

Quatro Velhos é um livro gostoso de ler, daquele que é possível concluir numa única sentada e que tem uma narrativa leve, porém profunda, capaz de apresentar múltiplas nuances da história e despertar um looping de sentimentos ao longo da história. Que delicia ler esse livro e ver personagens maduros protagonizando a trama e que nos envolvem, possibilitando entretenimento e reflexões acerca da vida humana.

A sensação que tive ao concluir a leitura da obra é a de que estava assistindo a um belo filme. Sim, daria um filme, um bom filme.

Sobre o autor:
Luiz Biajoni | Foto: Reprodução
Luiz Biajoni nasceu e vive em Americana, SP. Escreveu "A Comédia Mundana" e  A Viagem de James Amaro" publicados no Brasil pela Língua Geral e em Portugal pela Chiado. É autor também de Elvis & Madona e Virgínia Berlim - Uma Experiência.

Ficha Técnica:

Título: Quatro Velhos
Escritor: Luiz Biajoni
Editora: Penalux
Edição: 1ª
Ano: 2018
ISBN: 978-85-5833-466-2
Número de Páginas: 172
Assunto: Romance

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