[Entrevista] Vera Carvalho Assumpção - Tomo Literário


Vera Carvalho Assumpção é autora do livro Royal Destiny, finalista do Prêmio Aberst de Literatura. Ela falou ao Tomo Literário sobre seu contato com a literatura, sobre a criação de sua obra, sobre Alyrio Cobra – seu principal personagem. Falou ainda sobre o mercado literário, processo de criação, novos projetos e muito mais. Confira a entrevista.

Tomo Literário: Como foi o seu primeiro contato com a literatura e quando decidiu ser escritora?

Vera Carvalho Assumpção: Meu contato com a literatura foi desde sempre. Meus pais gostavam de ler, tinham uma estante cheia de livros, foi fácil começar a manipulá-los. Acredito que meu primeiro livro foi Reinações de Narizinho. Sou do tempo de Monteiro Lobato! Também li muitos gibis da época. Depois veio Sherlock Holmes, Agatha Christie e tantos outros. Ser escritora não foi uma decisão. Aconteceu! Comecei com pequenas crônicas. Depois fui me aventurando pelos contos que enviava para concursos e cheguei ao romance.

Tomo Literário: Seu livro Royal Destiny é um dos finalistas do Prêmio Aberst na categoria Romance Policial/Suspense. Qual a expectativa em relação ao prêmio e como é figurar entre os finalistas?

Vera Carvalho Assumpção: Receber a notícia que sou uma das finalistas do prêmio Aberst foi uma tremenda emoção. Foi sentir o reconhecimento do meu trabalho. São três os finalistas na categoria Romance Policial/Suspense. Meus companheiros são muito bons! Já li o trabalho do Victor Bonini. É excelente. O da Sandra Abrano ainda não li, mas já vi as críticas e sei que também é muito bom. Estar entre eles é um privilégio. Claro que existe a expectativa de vencer, mas ser uma das finalistas já é um fantástico reconhecimento. Já é o prêmio que valeu a pena!

Tomo Literário: Como surgiu a ideia do livro Royal Destiny e quanto tempo levou o processo da escrita até a publicação?

Vera Carvalho Assumpção:  As investigações de Alyrio Cobra não são sequenciais, pode-se ler qualquer uma delas sem que se tenha lido as anteriores. No entanto, Alyrio tem um vizinho de escritório, George, que se tornou seu melhor amigo e eu quis contar um pouco da sua vida, até para que eu o conhecesse melhor. Ao fazer a revisão de um dos livros de Alyrio, Noga Sklar me falou: George é gay, preste atenção! E eu não havia percebido! Royal Destiny começou com esta vontade de conhecer melhor George! Logo no primeiro capítulo é encontrado um esqueleto na periferia de São Paulo que poderia ser de um cemitério clandestino da época do regime militar. Com isto eu pesquisei a época em que George era jovem, o começo do regime militar. Na época, George fez um curso no Teatro de Arena, conheceu um companheiro por quem se apaixonou e que desapareceu sem deixar vestígios. O esqueleto poderia ser deste companheiro. Li muita coisa sobre a época para tornar o passado de George o mais verossímil possível. Ao mesmo tempo, Alyrio terminou uma investigação muito complicada e resolveu sair de férias numa viagem no navio Royal Destiny pelo Adriático. Ali, encontrou uma mulher misteriosa envolvida num assassinato. Alyrio estava tentando descansar depois de uma investigação complicada, e acabou se envolvendo em duas investigações!  Levei mais ou menos um ano para escrever Royal Destiny.

Tomo Literário: Nesse livro temos um dos seus mais conhecidos personagens, o detetive Alyrio Cobra que está em outros livros como Paisagens Noturnas, Rigor da Forma, Peças Fragilizadas, Serpente Tatuada e Mandalas Translúcidas. Como você apresentaria esse personagem aos leitores que ainda não o conhecem?

Vera Carvalho Assumpção:  O detetive Alyrio Cobra é um paulistano quarentão que adora a cidade de São Paulo. Não é um modelo de herói. Chegou à profissão de detetive depois de um divórcio atribulado em que teve de deixar a carreira de advogado. É um cara que sobreviveu a decepções e, apesar das muitas imperfeições, é profundamente humano. Diante de antagonistas poderosos, Alyrio jamais fracassa, chegando sempre ao culpado. O que considero o final feliz das histórias policiais.

Nos casos complicados, Alyrio gosta de caminhar pelo centro velho da cidade. Gosta de subir no terraço do Edifício Banespa e lá de cima, observando o emaranhado de cidade, ele consegue organizar as ideias e seguir pistas acertadas.
Alyrio vive na região da Paulista e tem o escritório no centro velho. Além do vizinho George, ele também tem um auxiliar motoqueiro. Acredito que com estes detalhes, Alyrio consegue abranger boa parte da cidade de São Paulo.

Tomo Literário: De que forma é o seu trabalho de pesquisa para a composição das suas obras e a criação de seus personagens? Poderia comentar um pouco para os leitores?

Vera Carvalho Assumpção:  Escrevo diferentes gêneros, mas gosto dos romances policiais por terem uma forma e uma estrutura bem definida: começo, meio e fim; ou crime, investigação e solução. O que é um desafio interessante de enfrentar. Quando o leitor abre um romance policial ele tem certas expectativas. Quando se depara com o assassinato (ou contravenção), o leitor espera que o escritor aja como um ilusionista e vá levando a história, mostrando algumas pistas e fazendo-o acreditar que vai descobrir antes do detetive quem matou! É este jogo que o escritor tem de criar com o leitor, dando certas dicas e ainda no final ter de surpreendê-lo. É um jogo bem desafiador. Gosto disto.

Quando pensei em Alyrio Cobra quis que ele atuasse na cidade de São Paulo, a cidade em que nasci e vivi toda a vida e que considero uma cidade propícia ao “noir”. Minhas histórias sempre começam com crimes que foram noticiados, que ocorreram na cidade. Por exemplo, Paisagens Noturnas começa com uma professora assassinada próxima à escola em que lecionava. Royal Destiny tem um esqueleto que pode ser um cemitério clandestino da época do regime militar e tem também a mulher que talvez tenha assassinado o amante antes de viajar. Em Peças Fragilizadas Alyrio é contratado por um matador de aluguel que está com medo de morrer. Estes fatos que são começos de minhas histórias apareceram na mídia. Não sei porque me chamaram a atenção e eu resolvi criar uma história fictícia para solucioná-los.


Tomo Literário: Como você vê atualmente o cenário literário brasileiro, sobretudo para as escritoras de suspense e literatura policial?

Vera Carvalho Assumpção: Acredito que nos últimos anos o cenário literário brasileiro melhorou muito. Romances policiais e de suspense, ou mesmo de outros gêneros, passaram a ser melhor avaliados. Há bem pouco tempo, escritores brasileiros não escreviam romances de entretenimento por acreditar que eram um gênero menor. Hoje escritores/as saíram do casulo das altas literaturas e estão estudando estruturas dos romances, estão realmente se empenhando para melhorar a qualidade da nossa literatura. Há também muitas formas de auto publicação que ajuda muito a não ficarmos esperando que um editor se interesse. Já não se fala mais em textos engavetados. Acho isto fantástico.

Tenho lido muitas mulheres brasileiras que escrevem romances policiais. Não vou citar nomes para não deixar ninguém de fora, mas posso garantir que há muitas mulheres dedicadas à literatura policial. Escrevi uma pequena crônica para a página “Liga das 7” falando que em 1920 foi a era de ouro do romance policial e havia muitas mulheres que escreviam, a começar pela rainha do crime Agatha Christie, a baronesa P.D.James e tantas outras, Um século depois, 2018, as mulheres brasileiras estão escrevendo romances policiais de ótima qualidade! Quem sabe será nossa era de ouro!

Tomo Literário: De modo geral o que te move a escrever? Quais suas inspirações?

Vera Carvalho Assumpção:  Escrevo porque amo o desafio de criar histórias intrigantes, que fazem parte da minha imaginação. Acho também que a literatura é uma forma de sobrevivência. No meio do cotidiano com problemas de ordem material e existencial, mergulhar numa boa história, viver um pouco das experiências dos personagens é tornar a vida mais palatável. Escrever é criar uma nova realidade, uma realidade paralela.

Tomo Literário: Você está preparando algum novo projeto literário? Pode nos adiantar alguma informação?

Vera Carvalho Assumpção: Coloquei há pouco o romance A PESCA MILAGROSA para concorrer ao prêmio Kindle de literatura. Não é um romance policial. É uma história que se passa no século passado e tem uma protagonista interessante, fruto da época. No momento, estou terminando a revisão de mais uma investigação protagonizada pelo Alyrio Cobra. Se passa em São Paulo, e tem como pano de fundo um bar de classe média bem frequentado, que é também ponto de venda de drogas e que está sendo disputado por duas facções criminosas.

Tomo Literário: Quais são os autores que você admira ou que de alguma forma influenciaram o seu trabalho como escritora?

Vera Carvalho Assumpção: Sou uma tremenda leitora! Leio muito mesmo. Leio vários gêneros e todos eles, de alguma forma, me influenciam. Dos policiais, gosto muito do Dennis Lehane, do Jo Nesbo. Quem influenciou na criação do Alyrio, além de Sherlock Holmes e o Maigret do Simenon, foram Andrea Camilleri com o comissário Salvo Montalbano, e Manuel Vasquez Montalbán com Pepe Carvalho, os dois últimos com suas refeições fantásticas. Nos livros de Alyrio também tem sempre refeições especiais preparadas por George.
Como escritora, acredito que uma das grandes influências foi o Realismo Mágico da América Latina. Oh tempo bom! Li e reli Cem Anos de Solidão nem sei quantas vezes. O Amor Nos Tempos de Cólera é a melhor história de amor que já li. Li muito Clarisse Lispector. Acredito que é bom reler obras importantes, pois amadurecemos e temos novas percepções. Há pouco, por influência da FLIP, reli Ilda Hilst. Bom demais! Gosto muito da Lígia Fagundes Telles. Enfim...

Tomo Literário: Que livros, de quaisquer gêneros, você recomendaria aos leitores? Está lendo algum atualmente?

Vera Carvalho Assumpção: Acabei de ler Inferno no Ártico de Claudia Lemes. É um livro excelente. Além da trama muito boa, é muito bem escrito. Para quem gosta de thrillers recomendo muito mesmo! Como já disse em respostas anteriores, estamos num momento em que as mulheres aqui no Brasil estão escrevendo romances policiais de ótima qualidade. Merecem ser lidas. Acredito que é bom ler boa literatura de todos os gêneros, de todas as nacionalidades. Vamos absorvendo um pouco de cada um e criando nosso próprio estilo.       

Tomo Literário: Gostaria de deixar algum comentário para os leitores do blog?

Vera Carvalho Assumpção: Quero agradecer ao Tomo pela oportunidade de estar aqui falando sobre meu trabalho. Quero também convidar os leitores para conhecer meu romance Royal Destiny que é finalista do prêmio Aberst de Literatura. Ele está na Amazon, publicado pela Editora Astronauta.

A todos os leitores do blog digo que ser escritor/a não é uma tarefa fácil. Eu gosto de escrever, montar a trama, desenvolver os personagens. As ideias vão chegando e a gente vai pondo no papel (ou tela). Depois, o reescrever, revisar, melhorar diálogos e reescrever novamente até ficar “no ponto” não é fácil. O importante é nunca desistir.

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