[Entrevista] Amélia Greier - Tomo Literário


Amélia Greier é o pseudônimo literário de Carolina Frutuozo, escritora independente e natural de São Paulo. Participou de diversas antologias da Editora Illuminare e, eventualmente, escreve para a Revista Inutensílio. Ela está preparando dois romances e concedeu entrevista ao Tomo Literário em que fala sobre escrita, livros e muito mais.

Tomo Literário: Como se deu o início de sua vida literária?

Amélia Greier: Quando criança e adolescente, eu sempre gostei de ler e escrever. Alguns colégios que frequentei tinham o costume de publicar antologias com os melhores textos feitos pelos alunos, e isso me motivava bastante a escrever. Participei de alguns desses livros, mas na época enxergava a escrita apenas como uma brincadeira, um entretenimento. E assim foi durante alguns anos: Lia entretenimento e escrevia como distração. No fim da adolescência, conheci alguns autores que me fizeram enxergar o mundo de uma maneira diferente. Conheci a literatura engajada, a literatura intimista, e aquilo me fascinou.  Naquele momento, percebi que a escrita poderia ser muito mais do que um simples entretenimento, entendi que uma história poderia ser muito mais do que uma narrativa linear com final definido. Decidi, então, arriscar fazer minhas próprias histórias. E tem sido assim há alguns anos. Somente no final de 2016 consegui publicar meu primeiro conto em uma antologia organizada pela Editora Illuminare. Este ano, publiquei contos em mais cinco antologias. E pretendo continuar escrevendo e tentando a (sorte de conseguir a) publicação.

Tomo Literário: Você tem contos publicados em antologias, como no livro Entre o Bem e o Mal, publicado pela Editora Illuminare. O que te inspira a escrever?

Amélia Greier:  Gosto de escrever sobre as sensações e impressões que tenho da realidade. Tenho a literatura como uma confidente, então é nela que deixo minha visão sobre o mundo. Também procuro dar voz a temas que são pouco tratados.

Tomo Literário: Além das antologias, você tem publicações no Wattpad. Como você vê o uso de plataformas de publicação?

Amélia Greier: O Wattpad e outras plataformas digitais permitiram um maior e mais fácil acesso a textos, e isso, sem dúvida, é muito positivo para autores novos. A possibilidade de publicar um texto gratuitamente e ser lido por vários desconhecidos é bastante motivadora. Porém, muitas destas plataformas trabalham com “ranking”, e assim usam variáveis meramente quantitativas (número de visualizações, número de votos e comentários, etc) para justificar a qualidade dos textos. Particularmente, eu acho isso um artificialismo imenso, nocivo tanto aos leitores (que acabam tendo maior acesso aos textos mais avaliados) quanto aos escritores (os escritores de destaque desenvolvem uma visão um pouco exacerbada de seu talento, e os que não estão em destaque “desanimam” pela falta de retorno). Penso que a literatura, seja como entretenimento, seja como arte, não deveria ceder aos critérios competitivos do mercado. Não há como avaliar em um único ranking, com critérios quantitativos, a qualidade de um texto do Machado de Assis e um texto de Stephen King. São escritas diferentes, realidades diferentes, gêneros diferentes... Não há como classificar um como “melhor” e outro como “pior”. Cada um é genial à sua maneira.

Tomo Literário: Para você, quais são os desafios que os escritores iniciantes têm enfrentado?

Amélia Greier: Creio que são inúmeros. Em primeiro lugar, conquistar leitores. Já vejo aí um enorme desafio, pois sinto que para o autor ser lido é necessário que ele se adeque a uma determinada temática, a um determinado gênero e a um determinado estilo de escrita que maioria dos leitores prefere.   E sem leitores, o que é o autor?  Como um autor pode melhorar sua escrita sem leitores que lhe avaliem?

Além disso, há também todos os entraves de se conseguir publicar um livro de maneira independente.

Tomo Literário: Está preparando algum novo projeto literário? Pode nos contar?

Amélia Greier: Estou escrevendo dois romances já há algum tempo. Um versa sobre a luta diária de uma jovem contra a depressão. Pretendo levar para a narrativa os dramas diários dos portadores da doença, e também traduzir em palavras todos os sentimentos inefáveis que a doença proporciona. 

O outro romance versa sobre a história de uma professora que era jovem durante os anos 60 e viveu intensamente todo o fervor cultural, artístico e político da época. Na narrativa, pretendo trabalhar as contradições entre o progressismo da juventude da década de 60 e o crescente conservadorismo da juventude atual.  

Tomo Literário: Quais autores influenciaram o seu trabalho como escritora ou quais autores você recomenda?

Amélia Greier: Comecei a escrever contos depois que li “Mrs. Dalloway” de Virginia Woolf. Fiquei maravilhada com a maneira como ela vê o mundo, e em como consegue colocar no papel simultaneamente fragmentos do mundo e da alma. Além disso, acho a escrita dela muito rica, cheia recursos narrativos que conduzem o texto de maneira muito elegante. Mas seria injusto dizer que somente ela me inspirou a (tentar) escrever. Aprendi a ler através de Sylvia Orthoff e Tatiana Belinky; Na adolescência, li bastante Edgar Allan Poe e Fernando Pessoa (e essas leituras me renderam alguns textos); Nas aulas de literatura do ensino médio, me apaixonei por Machado de Assis e pelos modernistas brasileiros... Acho que cada artista está “de pé em ombros de gigantes”, cada um faz sua arte alicerçada em muitas influências (maiores ou menores), então é difícil delimitar exatamente qual artista determinou o que na arte de outro artista. Como disse antes, admiro os recursos narrativos da Virginia Woolf, mas também a desenvoltura da Sylvia Orthoff; Admiro a ironia de Machado de Assis, e também os finais insólitos de Edgar Allan Poe, o engajamento dos modernistas... E se algum dia eu conseguir produzir algo que tenha um décimo da qualidade desses autores, ficarei satisfeita.

Recomendo que os leitores procurem não apenas os livros e autores que estão em destaque atualmente, mas também as obras clássicas dos grandes autores da literatura mundial. Tais obras ajudam não apenas a melhorar a escrita, mas também a maneira como pensamos, enxergamos e entendemos o mundo.

Foto: Reprodução
Tomo Literário: Que livros, de quaisquer gêneros, você indicaria aos leitores e de que maneira esses livros te tocam?

Amélia Greier: De poesia, indicaria “A Rosa do Povo”, de Carlos Drummond de Andrade. É um livro maravilhoso, versa muito sobre impasses atuais. Li este livro na adolescência e até hoje ele me toca. Alguns versos são tão impactantes que você irá carregá-los para o resto da vida.

De prosa, são tantos! Indicaria “Sra. Dalloway”, de Virginia Woolf, minha escritora favorita.  A temática, a maneira como o romance é conduzido, e a estética da escrita utilizada por ela são uma lição literária. Indico também “A Metamorfose”, do Kafka; “Sagarana”, do Guimarães Rosa e “Como me tornei um estúpido”, do Martin Page, três livros que me ajudaram a refletir sobre o mundo. Para os que gostam de política, indico “A Dívida”, do norte-americano David Graeber, livro que estou lendo no momento e estou adorando.

Tomo Literário: Quer deixar algum comentário para os leitores?

Amélia Greier: Aconselho que se arrisquem em livros (e autores) diferentes de suas leituras habituais. Não apenas os novos, mas também os já consagrados. Aconselho também que não se limitem aos best-sellers.          

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