[Entrevista] Carlos Nascimento - Tomo Literário


Carlos Nascimento é autor do livro Em Estado de Choque – A Singularidade, publicado pela Editora Kazuá. Ele falou ao Tomo Literário sobre seu contato com a literatura, contando-nos que começou a ler por volta dos 3 ou 4 anos de idade. Falou ainda sobre seu livro, a sequência da série literária, novos projetos, autores que influenciaram seu trabalho e o mercado editorial. Confira a entrevista.

Tomo Literário: Como foi o seu primeiro contato com a literatura?

Carlos Nascimento: Primeiro, devo compartilhar algo interessante e que, até hoje, se constitui em mistério para mim. Por volta dos 3 ou 4 anos de idade, eu aprendi a ler sozinho. Nunca cursei a Classe de Alfabetização; cheguei à escola sabendo ler e só precisei aprender a escrever. Como isso aconteceu, não tenho explicação... Coisas do Eterno!

No início dos anos 70, comecei a frequentar a mesma escola onde minha saudosa mãe era professora do nível Primário. Ela gostava de ler e sempre foi grande incentivadora da leitura; lembro-me de, quase sempre, ter passado os momentos livres de que dispunha na Biblioteca Escolar (por exemplo, na hora do recreio).

Naquele local, aos 6 ou 7 anos, li todas as obras infantis de Monteiro Lobato e apaixonei-me pelos personagens do Sítio do Pica-Pau Amarelo. No Ginásio, tornei-me fã das séries da Coleção Mister Olho, publicada pela Ediouro, com aventuras protagonizadas por grupos de jovens detetives, como a Turma do Posto Quatro (Luiz de Santiago), a Patota da Coruja de Papelão (Ganymédes José), a Sociedade Secreta dos Seis (Irani de Castro), o Chereta (Maruí Martins), Toquinho (Lino Fortuna), etc.

Além disso, as leituras requeridas pelo currículo escolar aguçaram meu interesse. Lembro-me de Menino de Asas (Homero Homem), de A Montanha Partida e Rosa-dos-Ventos (Odete de Barros Mott), da Coleção Taquara-Póca (Francisco Marins), bem como de alguns livros da Série Vaga-lume (Editora Ática): A Ilha Perdida (Maria José Dupré), O Escaravelho do Diabo e O Caso da Borboleta Atíria (Lúcia Machado de Almeida), dentre outros.

A congruência entre o dom de Deus, a disposição pessoal e as demandas escolares constituiu meu contato inicial com a literatura – especificamente, a infanto-juvenil, a qual, definitivamente, conquistou-me para si.

Tomo Literário: Quando e de que forma você decidiu se tornar escritor?

Carlos Nascimento: Cada vez que lia uma das obras anteriormente citadas, eu mergulhava na narrativa, me enturmando com os personagens e participando das suas aventuras. Até mesmo sonhei em conhecê-los pessoalmente! Na pré-adolescência, nasceu o desejo de criar minha própria turma de garotos-detetives e, aos 11 anos, escrevi o livreto Perdidos na Selva, no qual eu e meus colegas de classe mais chegados integrávamos a Sociedade Secreta dos Águias Negras (a SSAN). Meu pai datilografou o manuscrito no trabalho e encadernou para mim dois exemplares, infelizmente, perdidos em alguma mudança...

Contudo, a ânsia por colocar as ideias no papel não se perdeu e vem me acompanhando desde aquela época.

Tomo Literário: Em Estado de Choque foi publicado pela Editora Kazuá. Como surgiu a ideia do livro?

Carlos Nascimento: Na verdade, tive a ideia de escrever toda uma série de livros intitulada Em Estado de Choque, cujo primeiro volume chama-se A Singularidade. O inesperado sucesso obtido em concursos literários de prosa e poesia dos quais participei me estimulou a tentar realizar o antigo sonho de produzir algo mais extenso. Aproveitei o período sabático que decidi desfrutar na minha 7ª semana de anos (dos 49 para os 50, ou seja, de 2014 a 2015) e pus mãos à obra.

Adoro histórias de ficção científica envolvendo realidades alternativas, universos paralelos e outras dimensões; por isso, investi nessa temática. Inicialmente, dispus-me a atrair a atenção de leitores entre os 13 e os 35 anos; contudo, pessoas de outras faixas etárias têm curtido o livro. Os personagens principais são quatro jovens de uma cidade no interior de Minas Gerais (Daniel, Tamiko, Célio e Brittany), que transitam entre salas de aula da universidade, baladas, repúblicas de estudantes, laboratórios secretos, barzinhos, shows de rock e (claro) as residências de alguns deles. A trama reúne doses de aventura, ficção científica, espionagem, ação, suspense, romance, crises relacionais, “azaração”... Tudo com uma pitada de humor e ironia.


Tomo Literário: Quanto tempo durou o processo de escrita até a publicação? E qual foi a etapa mais complexa?

Carlos Nascimento: Escrevi a primeira versão ao longo do ano de 2014; quando a completei, fiz uma releitura e mudei bastante coisa. Em meados de 2015, com o trabalho pronto, registrei-o na Biblioteca Nacional e pus-me à procura da editora para publicar. Bati em algumas portas que não demonstraram interesse por um autor desconhecido do grande público. Decidi me arriscar no Concurso Nacional de Criação Literária, da Editora Kazuá, praticamente no último dia para o encerramento das inscrições. Fui surpreendido por uma ligação do Evandro Rhoden, da Kazuá, que disse ter gostado do meu original e perguntou se eu tinha interesse em publicar, independente do resultado do concurso. Claro que minha resposta foi positiva; daí, entramos em processo de revisão e fizemos o lançamento na sede da Kazuá, em São Paulo, em outubro de 2016, e no Rio de Janeiro, no Instituto Cultural Brasil-Japão (onde estudo Japonês), em dezembro do mesmo ano. Foram, portanto, dois anos, desde que comecei a escrever até a publicação.

Para mim, a etapa mais complexa foi decidir que o livro estava pronto. Tenho a tendência de ser meio perfeccionista e, nas releituras, sempre acabava achando algo para aperfeiçoar, corrigir ou contar de modo diferente. Se o autor entrar nessa neura, o processo criativo tende ao infinito; é preciso força de vontade para fazer o ponto final funcionar como tal, não só no papel, mas na mente do escritor.

Tomo Literário: O segundo volume já está pronto? O que os leitores podem esperar da continuação da série?

Carlos Nascimento: O segundo volume está pronto; dei-lhe o título provisório de Cinquenta Tons de Chumbo. Começarei neste mês (maio) o processo de revisão estilística com a Kazuá; posteriormente, haverá a revisão ortográfica e gramatical, a última revisão pelo autor e o OK para a impressão. Minha expectativa é de que possa publicar em julho ou agosto deste ano.

Na continuação da série, os personagens principais são os mesmos; os leitores irão conhecê-los um pouco melhor. Novos atores entrarão em cena, fazendo revelações surpreendentes. A vilã Mariana Iznaga voltará, acompanhada por uma espiã asiática do mesmo quilate. E, após nova transição dimensional, a vida de Daniel se tornará um caos. Creio que os leitores se divertirão bastante com os pontos de virada e os desfechos inesperados deste novo episódio da série Em Estado de Choque.

Tomo Literário: Você recebeu alguns prêmios e teve trabalhos publicados em antologias. Além de romance você tem histórias inéditas que deseja publicar?

Carlos Nascimento: Escrever um livro com mais de 200 páginas toma muito tempo; mesmo assim, tenho conseguido pensar em outras histórias, inclusive, em outras séries. Estão todas na minha mente; pretendo me organizar para colocá-las no papel e publicá-las no tempo oportuno.

Tomo Literário: De modo geral o que te move a escrever?

Carlos Nascimento:  Mario Vargas Llosa, em A Parábola da Solitária, define a vocação literária como “uma predisposição de origem obscura que leva certas pessoas a dedicar a vida à atividade para qual se sentem chamados, quase obrigados a exercer, por intuir que, somente abraçando tal vocação, se sentirão realizados, de bem consigo mesmos, dando o melhor de si, sem a dolorosa sensação de estar desperdiçando a vida”.

Concordo plenamente; se eu não escrever, sinto algo faltando! Em minha mente, há vários mundos a serem desvendados: personagens e suas idiossincrasias; enredos que se desenrolam... Enquanto a partilha não acontece, sofro um incômodo interior, como se um verme faminto se movesse em minhas entranhas, sugando-me as energias. Portanto, minha motivação para escrever é a forte necessidade de compartilhar com outras pessoas todas as nuances dos universos gerados pela minha própria criatividade.

Foto: Reprodução

Tomo Literário: Como você vê o cenário literário brasileiro atual?

Carlos Nascimento: Vivemos um tempo extremamente profícuo na literatura nacional. Embora eu avalie que, numa perspectiva otimista, 90% dos novos autores sejam desconhecidos do grande público, as obras por eles produzidas nada ficam a dever aos bookstars. Tenho lido ótimos livros de jovens escritores brasileiros que me surpreenderam, em prosa e em poesia. Seria excelente se as grandes editoras democratizassem o mercado, por exemplo, criando um selo específico para esses novos autores (algumas, talvez, até já o façam, mas não tenho essa informação até o momento).

Tomo Literário: Você está preparando algum novo projeto literário? Pode nos adiantar alguma informação?

Carlos Nascimento:  Além de Em Estado de Choque, pretendo iniciar outra série, abordando um tema mais espiritualizado, envolvendo conceitos da Teosofia, da teologia tibetana e a eterna luta entre o Bem e o Mal. Ainda não decidi o nome, mas um dos personagens principais será o indivíduo que sempre me intrigou: o Conde de Saint-Germain (ou o Mestre do Sétimo Raio, o Raio Violeta, na tradição esotérica).

Também tenho um projeto que diz respeito a outro grande interesse pessoal: a Ufologia. Tenho intenção de elaborar uma história tratando de contatos imediatos do 3º grau, canalizações de alienígenas (processo semelhante à incorporação mediúnica nas sessões espíritas), seres intraterrestres  e o Comando Ashtar. A princípio, deverá ser um único livro; dependendo do desenrolar, pode até virar uma nova série... Quem sabe?

Por fim, dentro do meu atual horizonte perceptivo, vislumbro uma terceira história, cuja trama será baseada em experiências de ativação paranormal realizadas num colégio interno nos anos 80 do século passado, um thriller de terror nos moldes de Carrie, a Estranha.

Tomo Literário: Quais são os autores que você admira ou que de alguma forma influenciaram  seu trabalho como escritor?

Carlos Nascimento:  Influenciaram minha vocação para a escrita os já citados Monteiro Lobato, Ganymédes José, Luiz de Santiago e Francisco Marins, além de Agatha Christie, Marcos Rey, H. G. Wells, Robert Louis Stevenson, Edgar Rice Burroughs e Júlio Verne.

Também admiro as obras destes autores de ficção e nelas, continuamente, me inspiro: J. K. Rowling, Marion Zimmer-Bradley, Isaac Asimov, Leon Uris, Frederick Forsyth, Ken Follett, John Le Carré e Edgar Allan Poe.

Tomo Literário: Que livros, de quaisquer gêneros, você recomendaria aos leitores?

Carlos Nascimento: Para a vida: A Bíblia Sagrada; Celebração da Disciplina (Richard Foster); Vivendo, Amando e Aprendendo (Leo Buscaglia).

Para quem pretende escrever: Cartas a um Jovem Escritor (Mario Vargas Llosa); Por Que Ler os Clássicos (Ítalo Calvino); Todo Mundo Devia Escrever (Georges Picard); Você é do Tamanho de Seus Sonhos (César Souza).

Para desfrutar de um bom romance: Exodus e Mila 18 (Leon Uris); Os Pilares da Terra (Ken Follett); a tetralogia Brumas de Avalon (Marion Zimmer-Bradley).

Tomo Literário: Gostaria de deixar algum comentário para os leitores do blog?

Carlos Nascimento:  Muitíssimo obrigado pela atenção proporcionada a este autor estreante (ainda me considero assim). Continuem sendo essas pessoas fabulosas que frequentam comigo o universo inesgotável da Literatura.

Deixo à disposição meu e-mail (carloshnbarros@gmail.com) e meu Facebook (https://www.facebook.com/carlos.nascimento.58511).



Conheça Em Estado de Choque – A Singularidade



“Em algum lugar do passado distante da humanidade, o Universo se espraiou a partir de um Estado de Choque extremamente denso e quente, e ainda hoje continua a se estender.”

A obra de Carlos Nascimento, “Em Estado de Choque”, revela as experiências de seu jovem protagonista Daniel, através de um narrador nada convencional, perspicaz e destemido. O encontro acidental de Daniel com uma Força da Natureza – o Destino, desencadeia uma passagem entre universos e dimensões,levando a situações perigosas, intrigas internacionais, romance e aventuras do mundo jovem-adulto.

‘Em Estado de Choque’ revela com maestria o tempo mensurado, com horas, dias, meses e anos, e também o tempo divino onde Daniel alimenta sua alma com o amor da jovem Tamiko e  com a forte amizade do amigo-irmão Célio, personagens cativantes com quem ele pode contar em qualquer universo ou dimensão.

Disponível no site da Editora Kazuá.


5 comentários:

  1. Parabéns! É um excelente livro! Vale a pena ler!!!

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  2. Parabéns Carlos Nascimento pelo trabalho!!! Recomendo o seu trabalho!!!

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  3. Primeiramente agradeço a disponibilidade e boa vontade do Tomo Literário por acreditar em talentosos autores não muito conhecidos.
    E agradeço pela história do meu professor Carlos Nascimento, que incentivou-me mais para escrever. Paz.

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  4. O livro me surpreendeu muito, o enrendo, os personagens, a escrita que é plausível.
    Tem um pouco de cada coisa que eu gosta em um livro, ação, romance, humor, suspense, etc.
    Parabéns pelo maravilhoso trabalho.
    Aguardo a sequência.

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